Babel


Queremos acreditar que a tecnologia tornou possível a comunicação entre pessoas de todos os pontos do planeta. Mas o que o diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu propõe no filme Babel é que os homens continuam a ser incapazes de se expressar e de se comunicar quando se trata de questões essenciais.

A Torre de Babel é uma metáfora bíblica, na qual os homens ousam atingir a dimensão divina, mas são punidos por Deus. Como castigo, passam a falar diversas línguas, o que tornará impossível a comunicação entre eles. Mas, como afirma Iñarritu, «a linguagem pode ser facílima de ultrapassar. O problema são as idéias e preconceitos que todos possuímos e que nos distanciam uns dos outros. É sobre isso que o filme se debruça».


  Último filme da trilogia, da qual faz parte Amores Brutos e 21 Gramas, Babel, através de diferentes histórias que se interligam, expõe as dificuldades de comunicação entre pais e filhos, amigos, marido e mulher, empregado e empregador, policiais e civis e até entre países. E é essa incapacidade de se comunicar que gera as tragédias, que nos deixam angustiados no decorrer de todo o filme.

Além das barreiras linguísticas, culturais e pessoais, o filme toca em temas como terrorismo, imigração e suicídio.

Iñárritu diz que pretende “mostrar a realidade contemporânea...”, na qual “vemos os outros como algo abstrato, ser diferente é sinal de perigo e nunca alvo de compreensão», e que esse problema ocorre em todas as formas de relação humana. «Perdemos a capacidade de ouvir. Quero focar precisamente isso, a fronteira entre as nossas almas, os preconceitos dos nossos pais, os arquétipos que nos são transmitidos pela religião, raça, cultura. Tentei fazer um filme sobre o preconceito, sem ser preconceituoso», enfatiza.

E continua: «este filme retrata precisamente isso. Independentemente da cultura, do país, da religião, idade ou estatuto social… todas as personagens têm uma inadequação de se exprimirem, com os seus maridos, mulheres, filhos. Quando não consegue ser tocado pelas palavras, e quando não consegue tocar as pessoas com as palavras, então o corpo torna-se uma arma, um convite. É um dos aspectos fulcrais do enredo. Em Babel não vão ver um filme sobre babilônios, marroquinos, mexicanos ou americanos… mas sobre seres humanos».

Mesmo num mundo complexo e desajustado, fazemos parte da mesma comunidade – a dos humanos. Temos de conviver com o diferente, tolerar costumes e culturas que nos são estranhas... mas ainda não conseguimos uma relação mundial a contento, sem a barbárie de que temos notícia todos os dias.

É disso que trata Babel: das fragilidades que confirmam que fazemos parte da mesma espécie.

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