Água

É bem da política corporativa e governamental, em sua simbiose infame, desviar nossa atenção para questões pequenas – e por vezes ridículas –, que se agigantam com o auxílio da grande mídia e de publicitários, também a serviço da banalização da realidade. Para isso também colabora uma legião de pessoas “bem intencionadas” que militam por causas evidenciadas pela grande mídia.
O destaque da atualidade é o meio ambiente, especificamente o “grande e importantíssimo problema das sacolinhas plásticas”. Quando perguntados sobre sua atuação para a proteção do meio ambiente, esses militantes (jovens, idosos e crianças) respondem prontamente e com ares de importância: “Ah, eu levo minha própria sacola cem por cento algodão. Ah, e também separo meu lixo.”  Será que essas pessoas já pararam pra pensar no volume de embalagens que acompanham os produtos que elas enfiam em sua sacolinha cem por cento natural? Acredito que não. E olha que tudo tem embalagem, e põe embalagem nisso! Só falta embalar o oxigênio que respiramos, pois a água já vem embalada.
E por falar em água – esse, sim, um tema de extrema relevância –, eis o meu foco. A terra tem cerca de ¾ de sua superfície constituídos por água. Desse total, 97,50% é de água salgada, contida nos oceanos e mares e apenas 0,77% dessa água pode ser imediatamente aproveitável para as atividades humanas (a maior parte, águas subterrâneas). Cerca de 1,70% da água doce se encontra nas calotas polares e nas geleiras e 0,017% está distribuído entre o solo, rios e lagos e na atmosfera.
E como aprendemos na escola primária, todos os seres vivos necessitam do sol e da água para sobreviver etc. etc. Por isso, todas as nações começaram à beira de um rio, que supria suas necessidades próprias, assim como as dos animais e da lavoura. Era a água que determinava onde se localizaria uma cidade. Mais tarde, o homem, soberano e senhor de suas vontades, começou a decidir a seu bel prazer onde seriam edificadas as cidades e onde seriam produzidos os seus alimentos, sem se importar com a geografia. E assim foram se construindo aquedutos e canalizações que tranportavam a água a longas distâncias. E assim é até hoje. E muito pior, porque a agricultura muitas vezes ocorre muito longe da água que a abastece. Mas por quê?, nos peguntamos. E as respostas são inúmeras: mão de obra barata, baixos impostos, subsídios e muitas outras. E tudo tem um preço, administradores e porquês. O preço é bem alto, o que é bom para as empresas privadas que atuam no mundo todo administrando os sistemas de águas e esgotos e péssimo para nós, contribuintes compulsórios. Em alguns países como a Bolívia, onde a população – pasmem – foi proibida até de reter água da chuva, houve muita convulsão, o que fez com que a negociata fosse desfeita e a administração do sistema voltasse novamente às mãos do poder público. Mas infelizmente nem todos os países tiveram sucesso, e pessoas sofrem os males consequentes de águas contaminadas por não terem dinheiro pra comprar água, como é o casos de muitas localidades na África.
Além disso, a exploração da água potável está sendo concedida pelos governos locais a empresas como a Nestlé, maior detentora de fontes de água do mundo, que a engarrafa e a vende a preços exorbitantes. E para que consumamos lançam mão de campanhas que sugerem que a água da torneira é imprópria para ser consumida. Assim, engolindo essas mentiras, ficamos reféns desse “novo produto”. E o que acontece com as abomináveis garrafas? São enviadas para a Índia, onde se transformam em belas montanhas, formando novas paisagens.
O assunto é muito grave. Na maioria dos países não há leis protegendo a água como um bem público. E pra se ter ideia de quão perto o problema pode estar de nós: a primeira pessoa com quem eu comentei o assunto disse que aqui mesmo em Sorocaba, um proprietário de um sítio está cedendo a água de sua propriedade para uma empresa comercializar. Resultado: os lençóis freáticos da região estão secando e todas as propriedades do entorno estão ficando sem água. Buscando providências para resolver a questão, os prejudicados ouviram da superintendente da CETESB que nada podia ser feito, pois não havia leis regulamentando esse assunto.
O fato é que está sendo travada uma guerra da água ao redor do mundo. No aquífero Guarani, um dos mais importantes do mundo, os EUA já montaram uma base militar, e pra proteger a água para os brasileiros, argentinos e paraguaios é que não é.
E o que podemos fazer? Talvez possamos começar nos informando sobre as políticas de água e esgoto da comunidade em que vivemos (saber se a administração é privada ou pública, qual o preço, como é a qualidade da água, se ela é própria pra consumo, ou é mesmo necessário comprar água engarrafada, como funciona o tratamento da água e do esgoto, onde são emitidos os esgotos, quais são os órgãos responsáveis pela fiscalização e regulamentação da água, se há grupos ou ONGs que lutam pelas questões ligadas ao tema, etc.).
Aí vai um endereço onde você encontrará links sobre o assunto: http://www.agua.bio.br/botao_e_T.htm


Um comentário:

  1. Excelente artigo, Sandra, e de grande utilidade. Morei na Itália por treze anos, e lá, desde o início dos anos 90 existia preocupação e cuidados com meio-ambiente. Aqui no Brasil poucas são as pessoas que pensam nisso; a maioria porque as carências cotidianas são tantas que só as fazem pensar em sobrevivência, e uma minoria que a exuberância é tamanha que ofusca a visão do todo.
    Vou compartilhar esse artigo no fb. Beijo

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